警訊113期 Revista da P.S.P. 113

55 das tecnologias de informação e da automatização, os trabalhos simplificados de produção começaram a diminuir, a configuração do trabalho também sofreu modificações, nomeadamente a importância dada à interacção e ao intercâmbio entre as pessoas, acabando estas por se dedicarem mais ao trabalho e ganharem auto-consciência. Simultaneamente, com a divulgação dos direitos sindicais e as informações sobre a saúde mental, as pessoas prestaram mais atenção quanto à influência do trabalho na sua saúde e no seu bem- estar. Na verdade, em 2010, a British Psychological Society realçou no seu relatório o conceito fundamental de bem-estar no trabalho ( well-being at work ), muitos estudos revelaram que o nível do bem-estar no trabalho estava associado ao desempenho do trabalhador, ao número de faltas, à eficiência da empresa, entre outros indicadores (e.g. Harter et al., 2003, Wright, 2009). Além disso, o referido relatório assinalou ainda que o bem- estar no trabalho estava relacionado com o contexto do trabalho, o conteúdo do trabalho e a pessoa em si. O contexto do trabalho inclui o modo de gestão, o nível de imparcialidade da empresa, a comunicação e o apoio prestado pela empresa; o conteúdo do trabalho abrange as exigências das tarefas, o nível de autonomia e de controlo e a estabilidade do trabalho; quanto à pessoa em si, tem a ver com a sua gestão do stress, a sua firmeza de espírito e a sua flexibilidade cognitiva. Para a conveniência do leitor, o presente artigo irá focar-se na exposição da relação entre os factores pessoais com o bem-estar no trabalho, através da exploração da origem do stress no trabalho e das formas de encará-lo, e a partir daí serão apresentados métodos eficientes para elevar o nível de bem-estar no trabalho. O nível de bem-estar no trabalho, a percepção do stress no trabalho e a forma de o encarar são indissociáveis. Antes de entendermos as consequências do stress no trabalho, devemos perceber em que consiste o stress. A palavra stress não nos é estranha de todo, mas qual é a definição? Actualmente, uma grande parte das investigações científicas sobre o stress baseiam-se nos resultados das pesquisas realizadas pelo “pai do stress” Hans Selye. Hans Selye foi um fisiologista de Viena, no início da sua carreira descobriu acidentalmente que a colocação dos ratos do laboratório nos lugares sujeitos a vicissitudes (tais como num pico com ventanias ou a correrem forçados numa roda) manifestavam neles uma série de sintomas fisiológicos sem causas aparentes, incluindo o aumento das glândulas adrenais, a atrofia do sistema linfático, o surgimento de úlceras no estômago e no duodeno. Deste modo, Hans Selye descobriu que o stress influenciava o hipotálamo-hipofisário-adrenal (eixo HPA) e definiu uma série de reacções fisiológicas e psicológicas que o stress provoca devido a estímulos exteriores. Segundo o modelo de stress definido por Hans Selye, o stress de curta duração não prejudica o organismo, antes favorece a sobrevivência, quando o homem recebe sinais de ameaça (como por exemplo de perigo), o hipotálamo organiza as informações visuais e transfere para o sistema límbico (amígdala e hipotálamo) para a avaliação, caso o sistema límbico considere que há uma situação de perigo, impulsionará o sistema nervoso simpático (como o aumento da frequência cardíaca e o aceleramento da respiração), simultaneamente inibe as reacções do sistema parassimpático (como por exemplo a fome), por fim segrega hormonas como a adrenalina e o péptido, de modo que o corpo tenha recursos e energia para desencadear a luta ou a fuga ( Flight-or-fight response ). Este processo pode ter uma duração de várias centenas de milissegundos, sendo um mecanismo importante de sobrevivência humana, sobretudo para os nossos antepassados que viviam num ambiente periclitante e inseguro. Contudo, se vivêssemos sempre num ambiente estressante, o corpo não resiste à exaustão, pois o arranque continuado do sistema HPA resulta no armazenamento anómalo de cortisol, e por conseguinte o aumento de açúcar no sangue, o aparecimento de doenças cardiovasculares e de hipertensão, etc.; isto explica a razão pela qual muitas pessoas se queixam de diferentes indisposições ao médico sem descobrirem a fonte do problema, pois é o resultado de viverem permanentemente sob stress. O stress para além de provocar doenças físicas, também influencia o trabalho. O lado negativo e revelador do stress no trabalho é o esgotamento (Raftopoulos et al., 2012), o esgotamento é o estado de exaustão a nível físico e psicológico, a pessoa sente que não tem capacidades, nem recursos ou controlo para dar resposta às exigências externas, simultaneamente a pessoa culpabiliza-se, sente ira, medo, fracasso e desespero (Maslach et al., 1997). Além disso, o esgotamento induz a pessoa a duvidar do seu valor no trabalho e das suas capacidades (Schaufeli et al., 2009). Os estudos revelam que o esgotamento diminui a satisfação do trabalho (Mackoniene & Norvile, 2012), reduz a concentração e o desempenho (Gruodyte & Navickiene, 2014), bem como aumenta as faltas

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