警訊103期 Revista da P.S.P. 103
56 Trabalhei como assistente de aconselhamento mais de dez anos, tendo prestado apoio aos doentes com diversos tipos de perturbações emocionais, dentro da sala costumava-se ouvir o borbulhar de numerosas questões e variadas expressões negativas, adivinhem qual a frase mais comummente dita durante as sessões de aconselhamento? “Sou um falhado”?, “Não sei como enfrentar a minha família e amigos”?, “Não sofro de nenhuma doença mental”?, “Será que tenho uma doença terminal”?, “Não quero continuar a viver”?, não, não são estas afirmações, mas sim a expressão negativa “Por que é que a minha vida é tão difícil?”. Será que vocês também já pensaram desta forma sobre a vossa vida? Como a descreveriam? Será que diriam igualmente que a vida é difícil? Ou será que estar vivo é bom? Ou metade da vida é alegria, outra metade é amargura? Uma mescla de sentimentos? Este tipo de pensamento pode ser explicado pela psicologia, pois há uma teoria na psicologia social chamada “profecia auto-realizável”, a qual indica que cada indivíduo tem o poder de desenvolver o seu potencial, mantendo ou melhorando a sua vida, sendo a busca do crescimento uma necessidade básica inata ao ser humano. Por outras palavras, quando temos um ponto de vista sobre alguma coisa, reunimos de forma selectiva mais fundamentos para suster a nossa perspectiva. Se o paciente achar que a vida é difícil, vai encontrar mais razões negativas para provar que a vida é efectivamente sofredora! Pelo contrário, se o paciente achar que a vida é alegre, vai reunir mais dados para comprovar que a vida é sinónimo de alegria! Para além da explicação sob o ponto de vista psicológico, também há o religioso que aponta para teorias diferentes, entre estas há a que diz “A vida é imparcial”, pois se achar que é feita de sofrimento ou de felicidade, assim o será (não tem a sensação de que esta ideia é semelhante à “profecia auto-realizável”?), além disso, se sofre no meio das dificuldades, então está a redobrar o sofrimento! Por isso durante o aconselhamento, a principal função do assistente é ajudar o paciente a tornar-se paulatinamente um ser “auto-realizável”, é pois um conceito muito prático, porque quando uma pessoa se torna “auto-realizável” possui uma visão clara e bom julgamento, sabe lidar com a vida e integrar-se nela, aceita-se a si mesmo e respeita os outros, revela que possui “auto-confiança”, sendo uma pessoa auto- confiante não será soberbo ou auto-depreciativo, antes abraça honestamente as suas virtudes e falhas, quando enfrenta stress e obstáculos, consegue analisar a situação racionalmente e resolvê-la. Quando tiver de ser “auto-confiante”, pode seguir estes passos ensinados aos pacientes: Primeiro passo: auto-conhecimento. O assistente ajuda o paciente a perceber quem é, o que possui, o que falta e o que deseja. De uma forma geral, muitas pessoas desde criança até atingirem a fase adulta, estão imersas no estudo, nos exames, no trabalho, no casamento e nunca tiveram oportunidade para parar e enfrentar calmamente as suas questões interiores, reflectir sobre a pergunta “Quem sou eu?”, sendo esta a base a partir da qual o paciente procura
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