警訊101期 Revista da P.S.P. 101
52 Um Pensamento num Momento Técnico superior de 2.ª Classe (área de psicologia), Wong Hon Lam “Penso, logo existo.” Acredito que muitas pessoas já conhecem esta famosa citação, mas será que entendem verdadeiramente o seu significado? “Penso, logo existo” é um dos argumentos da obra “Meditações sobre Filosofia Primeira” escrita pelo famoso filósofo francês René Descartes para provar a sua própria existência. Descartes duvidava da veracidade de todos os conhecimentos adquiridos no mundo externo, questionando ainda se a existência do ser humano e de todas as coisas era uma ilusão criada por um génio maligno que o enganava intencionalmente. Todavia, Descartes achou que o único facto que não podia duvidar era do “eu existo”, pois, se o eu não existisse, não conseguiria duvidar; se o eu não existisse, o génio maligno já não teria um destinatário para enganar. Portanto, desde que o eu pensasse e duvidasse, existiria verdadeiramente nesse momento. Por outro lado, Berkeley, pai do idealismo, também defendeu uma ideia semelhante que a existência das coisas no mundo se sujeita a um processo perceptivo do pensamento do ser humano, ou seja, se o ser humano não perceber estas coisas, elas por si próprias não conseguem existir no mundo. Os referidos argumentos enfatizam de forme extremista a importância do “pensamento” do ser humano, alegando que o pensamento equivale ao mundo externo. Hoje em dia, claro que as pessoas raramente se questionam sobre a veracidade ou falsidade das coisas ou duvidam se estão presentes numa ilusão. Porém, simultaneamente acredito que nós não temos dúvidas sobre a importância do pensamento, caso contrário não seriam ultimamente tão populares disciplinas concernentes à relação entre o pensamento, o comportamento, a saúde física e psicológica do ser humano e o sucesso, nomeadamente a psicologia positiva e a programação neurolinguística. Os pensamentos e os acontecimentos externos parecem autónomos, mas exercem entre eles uma influência subtil. De facto, no início do Século XX, os cientistas comportamentais começaram a estudar sistematicamente a relação interactiva entre o pensamento, o acontecimento, o humor e o comportamento. O conhecido modelo ABC da Psicologia (vide o mapa anexado I) aponta que, depois de tomar a ocorrência de um acontecimento, o ser humano põe automaticamente esse acontecimento no seu sistema de pensamento para avaliar, o que acaba por produzir uma série de humores, comportamentos e pensamentos. O sistema de pensamento mencionado consiste numa estrutura do grupo composta por elementos, como valores, personalidade e habitual maneira de pensar do ser humano, e que funciona como um filtro óptico, o qual torna um acontecimento inicialmente sem cor, colorido. Este modelo implica que mesmo que esteja um mesmo acontecimento, diferentes pessoas podem apresentar diferentes humores, comportamentos e pensamentos consoante o filtro óptico de cada um; por outras palavras, no mundo só existem acontecimentos em vez de factos, pois muitas vezes consideramos os factos como objectivos, mas na verdade, isto apresenta apenas uma interpretação subjectiva nossa do acontecimento. A terapia cognitiva, enquanto psicoterapia com eficácia clinica evidente baseia-se precisamente neste modelo. Beck, um dos inventores da terapia cognitiva, descobriu nas suas pesquisas que a causa de depressão resulta provavelmente das diversas distorções cognitivas existentes geralmente no sistema de pensamento dos pacientes. Tais distorções levam os pacientes, no processamento de informações exteriores, a inclinarem-se a produzir os humores
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